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Seg, 06 Jan 2020 17:35:00 -0300
Ana Maria Primavesi: importante legado
Nesse domingo, 05/01, o Brasil perdeu uma de suas mais importantes cientistas. Faleceu, aos 99 anos, Ana Maria Primavesi, pioneira da pesquisa em agroecologia. Nascida na Áustria, a pesquisadora mudou-se para o Brasil em 1949, já formada em Ciências Agronômicas e Ciências Florestais pela Universidade Rural de Viena. Posteriormente, fez doutorado sobre nutrição de plantas e solos e dedicou sua vida ao estudo do solo, sua paixão. "Solo é vida e é a base da vida. Há muita vida nele e muita dependência dele", dizia.
Integrante da 6ª edição do Projeto Pioneiras da Ciência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ana Primavesi foi uma das mais importantes pesquisadoras na área da agroecologia e da agricultura orgânica. A compreensão do solo como um organismo vivo e com diversos níveis de interação com a planta foi uma das suas contribuições para a agronomia.
Aos 26 anos, casou-se com Artur Primavesi, também agrônomo,que atuava, prioritariamente, na produção de cana e de trigo, visando a recuperação biológica do solo para viabilizar e obter elevadas produtividades. No Brasil, o casal visitou fazendas e, conversando com agricultores, aprendeu português e começou a escrever livros e manuais.
Com 41 anos, Ana Primavesi acompanhou Artur para atuarem na Universidade Federal de Santa Maria, onde lançou-se de corpo e alma na pesquisa científica, em áreas que considerava deficientes na pesquisa do solo. Artur criou o Instituto de Solos e Culturas e foi o braço organizador, articulador de parcerias, captador de recursos e divulgador do Instituto, e Ana era o braço pensante e científico. O Instituto ficou conhecido na Europa e Estados Unidos em pouco tempo.
Ao longo da vida, Ana Primavesi publicou 12 livros e 94 textos e artigos científicos e foi professora na Universidade Federal de Santa Maria entre 1961 e 1974. Nesse período, Ana criou um laboratório de biologia do solo e apontava para as complexas relações entre o solo, a planta e o clima, chamando a atenção de que o manejo dos solos dos países de clima temperado era inadequado para os nossos solos tropicais. Iniciou, então, a elaboração de um livro que abordasse estes temas, inicialmente com 200 páginas.
Em 1979, lançou seu livro-chave, o Manejo Ecológico do Solo: a agricultura em regiões tropicais, após diversos anos de desenvolvimento e discussões com editores e consultores ad-hoc. O livro teve que ser ampliado para 541 páginas e depois para mais de 600. Seu livro foi traduzido para o espanhol na Argentina e alcançou a Europa ibérica. Suas pesquisas e livros indicavam uma agricultura que privilegiava a atividade biológica do solo e buscava, assim, o incremento do teor de matéria orgânica e de húmus do solo, evitando o revolvimento do mesmo, e utilizava técnicas como a adubação verde, rotação de culturas e quebra ventos.
Ana Primavesi alertava em relação à orientação da adubação restrita ao uso de NPK e ressaltava a importância dos microelementos na eficiência produtiva e na sanidade vegetal. Ela assinalava os prós e os contras das distintas formas e fontes de nutrientes, sua eficiência e aproveitamento pelas plantas, sua ciclagem no ambiente e seus impactos sobre a biologia do solo. Ao tratar desse assunto, alertava para o fato de que a fertilidade do solo não poderia ser compreendida apenas por suas características químicas, já que é intrinsecamente ligada a fenômenos que também se relacionam às propriedades físicas e biológicas. Outra contribuição sua foi a percepção das ervas daninhas como indicadores ecológicos de qualidades físicas, químicas e biológicas dos solos.
Quando se aposentou, em 1980, mudou-se para sua propriedade agrícola de 96 ha em Itaí, no estado de São Paulo. Foi pesquisadora da Fundação Mokiti Okada e uma das fundadoras da Associação da Agricultura Orgânica (AAO), uma das primeiras associações de produtores orgânicos do Brasil. Ao longo de sua carreira, recebeu diversos prêmios, como o One World Award da IFOAM, em 2012, além de títulos Doctor honoris causa em diversas universidades brasileiras. Em 2014, foi anunciada Patrona da Agroecologia Nacional.