Redes de Pesquisa
As 39 redes de pesquisa do Edital MCT/CNPq/MMA/MEC/CAPES/FNDCT - Ação Transversal/FAPs Nº 47/2010 foram estruturadas em torno de projetos integrados gerenciados por uma instituição líder e envolvendo a participação de outras instituições, incluindo estrangeiras.
As redes de pesquisa aprovadas estavam distribuídas em três chamadas ou linhas de financiamento propostos no Edital:
Chamada 1 - Sínteses e lacunas do conhecimento da biodiversidade brasileira (uma rede de pesquisa)
Essa linha previa a elaboração de sínteses sobre o estado atual do conhecimento por bioma e suas respectivas lacunas, com sínteses das informações disponíveis de todos os grupos taxonômicos de vertebrados, invertebrados, plantas e microorganismos. A seguinte proposta, referente à Zona Costeiro-Marinha, foi selecionada:
Coordenação: Antonio Carlos Marques (USP)
Texto informativo:
O objetivo geral do projeto "Sínteses e lacunas do conhecimento sobre os organismos da zona costeiro-marinha brasileira" foi realizar uma análise crítica sobre o conhecimento atual relacionado aos organismos marinhos, identificando as deficiências atuais no conhecimento acumulado e propondo alternativas para saná-las. A proposta investigou a biodiversidade não apenas sob o conhecimento catalográfico, mas também seus desdobramentos em enfoques tais como filogenia, filogeografia, biogeografia, conservação, história natural, bioprospecção e biomonitoramento, todos componentes derivados do mesmo processo evolutivo. A metodologia básica do projeto esteve fundamentada em uma rede de mais de 25 pesquisadores para levantamento dos dados com os especialistas. A organização do programa de avaliação foi, portanto, formada por uma série de "nós" no sistema, a saber:
1) Coordenação, responsável pelo gerenciamento do projeto e organização dos "hubs", planejamento dos questionários para consecução dos objetivos, organização final e análise final dos dados; e
2) "Pesquisadores-hubs", vários pesquisadores (um ou dois por táxon principal) com a função de planejar a prospecção de dados e intermediá-la com colegas especialistas do mesmo táxon.
Os objetivos específicos do projeto foram:
1) Produção de um compêndio crítico do conhecimento sobre a biodiversidade marinha brasileira atual, baseada em ampla rede de consulta a especialistas;
2) Cobrir todas as regiões brasileiras com uma análise intensiva do conhecimento acumulado, incluindo literatura cinza no caso de haver poucos dados conhecidos para uma dada região;
3) Analisar criticamente as coleções depositárias de materiais biológicos marinhos, sua eficiência e representatividade em termos regionais, nacional ou internacional;
4). Aumentar em 50% o número de táxons que já contam com avaliações organizadas sobre seu conhecimento;
5) Levantar dados sobre os estudos de biodiversidade marinha com táxons brasileiros também sob as perspectivas filogenéticas, biogeográficas, filogeográficas, ecológicas, de bioindicação, de bioprospecção e de biomonitoramento;
6) Difundir conhecimento sobre organismos e ambientes marinhos para o grande público. Considerando o cenário atual de perda de diversidade como consequência direta da ação antrópica, os resultados do presente projeto servirão de base para futuros monitoramentos, planejamentos e avaliações.
Chamada 2 - Pesquisa em redes temáticas para ampliação do conhecimento sobre a biota, o papel funcional, uso e conservação da biodiversidade brasileira (32 redes de pesquisa)
As propostas nesta chamada deveriam guardar aderência às seguintes linhas temáticas: ampliação do conhecimento sobre a biodiversidade brasileira, incluindo diversidade genética intra e interpopulacional, diversidade filogenética, diversidade funcional e diversidade morfológica; padrões e processos relacionados à biodiversidade envolvendo o mapeamento de diversidade para táxons pouco ou razoavelmente conhecidos e sua relação com variáveis explicativas potenciais; relação entre diversidade e funcionamento de ecossistemas; mapeamento e monitoramento sistemático das alterações das paisagens e monitoramento da biodiversidade envolvendo estudos para estabelecer patamares de referência recente ou atual (baseline). As propostas deveriam, preferencialmente, propor estratégias para a valorização da biodiversidade e dos produtos e serviços relacionados (p. ex. bioprospecção, serviços ambientais, entre outros). Poderiam ser financiadas propostas que englobassem ações já financiadas pelo PPBio, PELD, RENORBIO, GEOMA, COMCERRADO, BIONORTE, Biotas Estaduais, LBA, INCTs, PROBIO, entre outros, desde que a nova proposta tivesse caráter de convergência, de complementaridade, ou que representasse uma ampliação das atividades para um novo patamar organizacional, de abrangência temática ou geográfica e de metas e resultados esperados, levando em consideração as diretrizes do SISBIOTA. No caso de propostas com ações de outros financiamentos, o valor máximo por rede era de R$ 1 milhão, sendo que propostas novas para financiamento integral poderiam apresentar orçamentos de até R$ 2 milhões. As seguintes redes de pesquisa foram financiadas no âmbito dessa chamada:
Coordenação: Alex Cardoso Bastos (UFES)
Texto informativo:
A Rede Abrolhos aborda os principais aspectos estruturais e funcionais do maior e mais rico conjunto recifal do Atlântico Sul (Abrolhos - Bahia e Espírito Santo), em especial aqueles envolvidos na resistência e resiliência desse sistema hiperbiodiverso frente aos estressores que se configurarão ao longo do século XXI, incluindo anomalias térmicas e acidificação, doenças emergentes em corais, aumento na sedimentação e contaminação decorrentes das atividades humanas na zona costeira, sobrepesca de grupos funcionais críticos e a exploração pesqueira crescente na zona mesofótica. Ao abordar, em múltiplas escalas espaciais e temporais, os processos ecológicos subjacentes aos padrões de distribuição e dinâmica da biodiversidade recifal, a Rede consolida o conhecimento sobre a região de Abrolhos na forma de publicações e de um sistema de informação que gera subsídios para respostas de manejo em escalas apropriadas, incluindo planos e medidas para mitigação da perda de biodiversidade, restauração da funcionalidade e adaptação a mudanças nas condições climáticas e oceanográficas. Além de contribuir para o estabelecimento e/ou consolidação de patamares de referência para áreas recifais sob condicionantes ecológicas dissimilares e regimes de manejo diferenciados, utilizando modelos diversos (p. ex. microbiota, comunidades bentônicas, peixes recifais) e variáveis de processo (p.ex. recrutamento, níveis de herbivoria e coralivoria, taxas de crescimento de organismos construtores, desembarques pesqueiros), a Rede Abrolhos desenvolve um mecanismo de Planejamento Sistemático para Conservação (PSC) que permite determinar quais são as áreas-chave para a biodiversidade e as lacunas de conservação na região de Abrolhos, incluindo a modelagem de cenários para o estabelecimento de novas áreas de proteção e manejo, levando em consideração as principais atividades econômicas que dependem (p. ex. pesca) e influenciam (p. ex. mineração) os serviços ambientais prestados pelos sistemas recifais. Para alcançar seus objetivos, a Rede Abrolhos integra iniciativas de pesquisa, capacitação, formação de recursos humanos e gestão ambiental desenvolvidas por um amplo leque de instituições, incluindo órgãos gestores de diferentes esferas, organizações não-governamentais, instituições locais de ensino (nível médio), universidades e institutos de pesquisa de três regiões brasileiras. A partir do grupo nuclear proponente da Rede, são agregados, em caráter contínuo, parceiros e atores relevantes das esferas pública, privada e do terceiro setor.
Coordenação: Andre Silva Barreto (UNIVALI)
Texto informativo:
A Rede para o mapeamento da biodiversidade de mamíferos marinhos na costa brasileira foi um projeto voltado para integrar os esforços de diversas instituições que trabalham com mamíferos marinhos ao longo da costa brasileira. Devido à grande extensão do litoral brasileiro é difícil executar ações conjuntas para entender onde estão os mamíferos marinhos (baleias, golfinhos, peixes-boi, focas, lobos e leões marinhos) e se existem áreas com maior ou menor ocorrência destas espécies. Com a formação desta rede, mais de 30 instituições integraram seus dados em uma única plataforma para permitir entender melhor a distribuição destes animais. O Sistema de Apoio ao Monitoramento de Mamíferos Marinhos (SIMMAM) é uma plataforma baseada na internet que pode ser acessada por qualquer pessoa no endereço http://simmam.acad.univali.br e permite ver mapas sobre a ocorrência das diferentes espécies, bem como textos sobre a biologia de cada uma das espécies que ocorrem no Brasil. Este projeto foi de grande importância para dar apoio à Rede de Encalhes de Mamíferos Aquáticos do Brasil (REMAB), que é coordenado pelo Centro Mamíferos Aquáticos do ICMBio. Os recursos deste projeto auxiliaram na realização das reuniões anuais da rede, trazendo pesquisadores de mamíferos aquáticos de todo o Brasil para se reunir e discutir diversos aspectos da conservação deste grupo de animais.
http://simmam.acad.univali.br
Coordenação: Carlos Eduardo Falavigna da Rocha (USP)
Texto informativo:
Os microcrustáceos de água doce são um grupo composto por animais dificilmente vistos a olho nu e que passam despercebidos do público em geral, muito embora tenham relevância no funcionamento dos ambientes aquáticos variáveis em forma, volume e energia, sejam eles de águas correntes (rios, riachos, por exemplo), paradas (poças em nascentes, charcos, brejos, açudes, lagos, represas) e até mesmo locais que retenham alguma umidade, como bromélias, musgos, substrato do chão de matas e de campos. Tais águas podem ser limpas ou apresentar diferentes graus de degradação ocasionada por poluentes de naturezas diversas. Importante ainda salientar a ocorrência desses animais em águas subterrâneas e bancos de areia no leito e margens de rios. Em suma, é bastante provável a ocorrência de microcrustáceos em localidades freqüentadas por trabalhadores, turistas e moradores de áreas rurais. Os simples hábitos de carregar água de um lugar para outro em recipientes, ou caminhar através de brejos, áreas alagadas, margens de rios e lagoas, e a aquisição de animais em lojas de aquários, os quais requerem uma pequena porção de água para o seu transporte até o aquário ou tanque de destino, podem levar consigo microcrustáceos adultos ou seus ovos de resistência (sim, seus ovos sobrevivem à secagem) que, uma vez liberados em ambiente com condições favoráveis a sua sobrevivência, povoarão o novo ambiente aquático invadido. Esses animais são pouco investigados no país, com destaque para o Brasil Central, onde fica o maior número de campos rupestres (áreas rochosas em altitudes acima de 900 m). Seu conhecimento contribuirá com dados inéditos sobre a composição faunística dos grupos, com a possibilidade de interpretação das relações de parentesco entre eles, sua distribuição geográfica, bem como a natureza das águas em que foram registrados. Embora com pouco apelo junto ao grande público (se comparado ao interesse despertado para a conservação de grandes mamíferos) seu registro em determinadas áreas poderá contribuir para o estabelecimento de medidas indicadoras de áreas a serem preservadas pelos três níveis de governo.
A rede é formada por pesquisadores, alunos e funcionários da Universidade do Estado de Minas Gerais - campus de Frutal (UEMG-Frutal), UNESCO/HidroEx e da Universidade de São Paulo (coordenador), com a colaboração de especialistas da UnB; Universidade Católica de Brasília e UNESP/Araraquara.
A divulgação dos resultados será feita em reuniões de diferentes naturezas e abrangências. Cartilhas impressas em português e inglês foram entregues nas sedes dos parques visitados para a coleta de amostras com o compromisso dos dirigentes em repassar cópias para as escolas da região e visitantes. Há versões digitais em português, inglês e francês disponíveis no blog do projeto.
Coordenação: Carlos Frankl Sperber (UFV)
O projeto "Biota de Orthoptera do Brasil" é uma rede de pesquisa que reúne os estudiosos brasileiros dos insetos ortópteros. Estes insetos são os grilos, gafanhotos e esperanças. Lideram a rede cinco instituições de pesquisa - UFV, UNESP, UFPel, UFRB, PUCRS - unificando e integrando esforços científicos, antes isolados. Nossa rede busca aumentar o conhecimento da biodiversidade de ortópteros do Brasil, abrangendo todos os seus biomas, e realizando coletas em locais pouco ou nunca antes estudados quanto a estes insetos. Visamos fornecer ferramentas para a conservação biológica, formar pesquisadores e promover ações de educação ambiental e de divulgação do conhecimento científico. Nos propomos a associar pesquisa com extensão e educação ambiental, buscando que as pessoas se sintam sujeitos na inter-relação com o meio biótico, resignificando conceitos e sentidos referentes ao ambiente ao seu redor, e diminuindo a distância entre ciência e sociedade. Colocamos em contato o conhecimento da biodiversidade e de sua relação com o meio no universo cognitivo e emotivo do público em geral, favorecendo a empatia, respeito e preservação. Queremos superar a visão abstrata ou inatingível do conhecimento científico, e transformá-la em conhecimento cotidiano e pessoal. Em termos científicos, visamos mapear a biodiversidade de ortópteros, descrevendo espécies desconhecidas para a ciência e consolidando o conhecimento desta fauna. Estudamos a diversidade genética intra- e interpopulacional, através do uso de ferramentas moleculares, morfológicas e ultramorfológicas, e os determinantes ecológicos da diversidade destes insetos. Para isto, avaliamos os efeitos de variáveis ambientais e biológicas sobre os ortópteros, de forma a compreender os mecanismos envolvidos na geração e regulação da biodiversidade. Temos três grandes Programas de Pesquisa:
(1) Diversidade, Sistemática e Taxonomia;
(2) Filogenia e Identificação Molecular e
(3) Ecologia.
Até o momento encontramos 8 gêneros e 32 espécies novas de ortópteros. Verificamos que a maior parte destas espécies ocorre em áreas muito limitadas, o que reforça a importância da preservação destas áreas. Estimamos que nossas coletas incluam mais de 200 espécies de grilos novas para a ciência. Em termos moleculares, verificamos que ortópteros representam um imenso desafio, pois seu material genético é de difícil interpretação. Estamos trabalhando em formas de superar estas dificuldades, o que já nos permitiu construir hipóteses de história evolutiva (filogenia) para alguns destes insetos. Verificamos que tanto características locais do ambiente quanto características regionais afetam a diversidade de grilos. Finalmente, verificamos que a regeneração de florestas permite um aumento no número de espécies de grilos, o que mostra a importância da recuperação destes ambientes.
Coordenação: Carlos Jose Einicker Lamas (USP)
Texto informativo:
Moscas e mosquitos constituem a ordem Diptera, com mais de 120.000 espécies. São encontrados em todo o mundo e têm enorme impacto na vida humana. Alguns grupos, por exemplo, transmitem doenças como malária, febre amarela e leishmaniose. Esses insetos apresentam grande variedade de estratégias de alimentação, podendo ser hematófagos, predadores, galhadores, minadores de folhas, polinizadores, parasitóides, saprófagos e brocadores de madeira. Os Diptera têm um ciclo de vida holometábolo. Suas larvas e adultos têm anatomia, comportamento, exigências e estratégias ecológicas distintas, como seu tipo de alimentação e habitat.
O SISBIOTA-BRASIL é um programa de pesquisa financiado pelas principais agências de fomento brasileiras para documentar plantas e animais em áreas e biomas ameaçados e/ou pouco estudados. O escasso conhecimento sobre a distribuição de invertebrados e plantas no país dificulta a compreensão da evolução da nossa fauna e flora e também traz impedimentos para o estabelecimento de políticas conservacionistas.
Dentro desta premissa, foi proposto o projeto SISBIOTA-DIPTERA, voltado ao estudo dos dípteros do Brasil Central, nos Estados de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Tais estados contêm quatro biomas importantes da América do Sul: Floresta Amazônica, Cerrado, Pantanal e Chaco. Além da relevância ecológica, tais áreas carecem de levantamentos entomológicos satisfatórios, além de estarem sendo destruídas pelo exponencial aumento das fronteiras agrícolas e de áreas destinadas à pecuária.
O projeto abrange aspectos taxonômicos, filogenéticos e biogeográficos, envolvendo 24 pesquisadores de 15 diferentes instituições brasileiras, 36 alunos de pós-graduação e graduação, além de 10 técnicos. Até o momento, foram analisados cerca de 300.000 espécimes, coletados de forma padronizada ao longo das áreas amostradas. Nossos resultados parciais indicam a presença de 56 diferentes famílias ocorrendo nos três estados estudados, além da identificação de 246 espécies novas, ou seja, ainda não conhecidas pela ciência, e 421 novos registros de espécies das quais não se sabia a ocorrência nas áreas estudadas até então. Esses resultados parciais foram e ainda estão sendo divulgados em 67 artigos científicos (entre publicados, no prelo e em preparação). Informações sobre a continuidade dos resultados poderão ser obtidas através de nossas páginas nas redes sociais (http://facebook.com/sisbiotadiptera e http://twitter.com/sisbiotadiptera) ou ainda em nosso blog: http://sisbiotadiptera.blogspot.com.
A região cacaueira do sul da Bahia, por muitos anos, tem sido considerada como exemplo de compatibilidade entre atividade econômica, no caso o cacau (Theobroma cacao), e conservação da biodiversidade da Mata Atlântica. Esta biodiversidade, e como ela funciona, define fatores importantes para o bem estar e qualidade de vida das pessoas - os chamados "serviços ambientais". A qualidade do ar que se respira e da água que se bebe, a quantidade e frequência das chuvas necessárias para irrigar as plantações e produzir os alimentos, o controle de pragas que podem atingir as lavouras são alguns dos exemplos mais claros de tais serviços e de sua importância. Os resultados da pesquisa feita por esta rede SISBIOTA mostram que a maneira como a região cacaueira sul baiana vem sendo explorada, principalmente nos últimos 40 anos, está transformando significativamente as florestas, a biodiversidade e os processos ecológicos. As florestas da região abrigam uma grande biodiversidade de animais, plantas e micro-organismos que interagem entre si para produzirem esses serviços ambientais. No entanto, os resultados da nossa pesquisa mostram que com o desmatamento e a consequente retirada excessiva de cobertura de florestas na paisagem, grande parte dessa biodiversidade tem sido eliminada. A estrutura da floresta tem se modificado, ou seja, em áreas menos florestadas encontramos não apenas menos árvores como árvores menores. Além disso, todos os grupos de plantas e animais estudados foram afetados pela perda de cobertura florestal. Isso significa que em áreas com menos floresta temos menos espécies, menos indivíduos dos diferentes grupos estudados e, principalmente, mudanças em vários processos ecológicos importantes para garantir o funcionamento das florestas. Ressaltamos que estas alterações detectadas indicam problemas nestas florestas, e que se nada for feito para reverter esta situação certamente as florestas de amanhã, e os serviços ambientais que elas prestam ao homem, serão igualmente modificados. Desta maneira, políticas de conservação da paisagem sul baiana são fundamentais para garantir que esses serviços ambientais possam ser mantidos em longo prazo.
http://www.sisbiota.comwww.appliedecologylab.com
Coordenação: Denise de Cerqueira Rossa-Feres (UNESP)
Texto informativo:
Girinos de sapos, rãs e pererecas são tão comuns e, curiosamente, tão pouco conhecidos. Parte desse desconhecimento se deve ao fato de vários girinos não serem conspícuos, ou seja, não é fácil visualizá-los nos corpos d'água. O girino mais facilmente percebido, e o mais conhecido, é o girino do sapo, que tem coloração preta e vive em cardume. Os girinos das demais espécies ou têm coloração de camuflagem e se confundem com o ambiente, ou ficam no fundo ou entre a vegetação dos corpos d'água. Dessa forma, a imensa diversidade de formas e cores dos girinos brasileiros é muito pouco conhecida. Menos ainda se sabe sobre seu comportamento, alimentação e ecologia. Nessa rede de pesquisa, 28 pesquisadores - 24 docentes de 15 universidades públicas de 10 estados brasileiros e quatro do exterior (Estados Unidos, Canadá e França) - e 102 alunos - desde iniciação científica até pós-doutorado - uniram-se para conhecer melhor essa fase da vida dos anfíbios anuros, que têm grande importância no equilíbrio das redes tróficas aquáticas, no controle da qualidade da água (evitando eutroficação) e como indicadores de qualidade de habitat. Foram amostrados girinos de anuros em 1.127 corpos d'água distribuídos em nove diferentes biomas e formações vegetais associadas: Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Floresta Amazônica, Pantanal e Chaco, bem como os ecótones do Nordeste, em 13 estados brasileiros. Girinos de mais de 400 espécies foram encontrados, dos quais quase 200 espécies diferentes (excluindo repetições em diferentes biomas). Até o momento, girinos de 14 espécies de anuros foram descritos, 29 artigos científicos publicados, 41 trabalhos apresentados em Congressos (sendo 10 no exterior), uma coleção com seis livros de divulgação científica está sendo impressa e um livro científico - Girinos do Brasil -, contendo descrições, fotografias e informações sobre bioma, habitat e comportamento, está em produção. Construímos um imenso banco de dados com informações altamente padronizadas sobre ocorrência, abundância, morfologia, morfometria, características do habitat e do ambiente geral, para girinos de todas as espécies coletadas. Esse banco de dados servirá para estudos com diferentes abordagens (processos em comunidades, padrões de diversidade, sistemática e evolução, genética, impactos ambientais, metacomunidades etc.) por muitos anos. Mapas com os registros de espécies obtidos nas amostragens em campo e registros de museus permitiram definir áreas que são lacunas geográficas no conhecimento sobre girinos no Brasil, as quais deverão ser priorizadas em futuros projetos. Os estudos sobre processos ecológicos possibilitaram compreender a relação das espécies com as características do habitat e determinar a influência relativa da relação das espécies com o ambiente e de processos evolutivos na diversidade de girinos brasileiros.
Coordenação: Edson Rodrigues Filho (UFSCar)
Texto informativo:
A grande maioria da vida no planeta é formada por micro-organismos, e a outra parte de organismos vivos depende fortemente deles. A enorme variedade genética e as inúmeras expressões fenotípicas de cada um dos seus diferentes genes responsabilizam os micro-organismos por um incontável número de conseqüências para todos os animais, incluindo o homem. Entre grandes benefícios e muitos prejuízos, os fungos, as bactérias e os vírus são uma constante preocupação para o homem. É imperativo para a espécie humana conhecer essas minúsculas formas de vida para saber lidar com elas. Uma das mais importantes habilidades dos micro-organismos é a capacidade de adaptação aos substratos onde eles se associam para obter os nutrientes que formam a base do seu desenvolvimento e manutenção dos seus ciclos de vida. O uso de um sistema enzimático quase sempre muito complexo permite-lhes sobrepor barreiras impostas por seus hospedeiros e se instalar em outras formas de vida ou ocupar posições em diversos nichos ecológicos, produzindo um grande arsenal de substâncias que se acumulam na natureza. Essas substâncias podem causar, direta ou indiretamente, grandes danos ao homem (micotoxinas carcinogênicas, fitotoxinas etc.), ou ajudá-lo a curar doenças causadas por outros microorganismos (antibióticos, anticâncer, etc). Micro-organismos podem beneficiar o homem indiretamente, contribuindo para a produtividade agrícola quando eles enriquecem o solo e auxiliam o desenvolvimento de plantas importantes para o consumo humano. Identificações de micro-organismos sempre foram tarefas difíceis. Inicialmente, realizava-se exclusivamente a inspeção macro e micromorfológica; depois, vieram as técnicas de biologia molecular como uma das mais poderosas ferramentas para uma identificação segura nos níveis gênero e espécie. As duas estratégias, ou a combinações delas, são sempre muito demoradas e às vezes inconclusivas. A presente rede de estudos vem se dedicando à implementação de uma tecnologia para conferir maior agilidade e segurança a tais identificações, utilizando principalmente a análise de algumas moléculas que são boas caracterizadoras, como por exemplo algumas proteínas ribossomais, através de espectrometria de massas com ionização por lazer (MALDI-TOF/MS). Essa tecnologia já é bastante usada em microbiologia médica, mostrando-se importantíssima para a identificação de infecções bacterianas hospitalares, e está sendo agora adaptada para a identificação de fungos. Depois de cumpridas as etapas de certificação de cepas e aumento da base com dados confiáveis, esse sistema pode representar uma ferramenta de extrema utilidade para catalogar e identificar milhares de micro-organismos e com isso racionalizar os estudos que exploram biodiversidade microbiana, bem como para os próprios estudos proteômicos e genéticos de micro-organismos feitos pelos taxonomistas. Nossas pesquisas vêm sendo desenvolvidas com coletas de micro-organismos em diversos biomas, como floresta tropical, costa marinha do Nordeste e solos de cerrado, e também em diferentes plantas e insetos. Além dos resultados centrais almejados, a equipe está também envolvida na formação de recursos humanos com característica bastante interdisciplinar, e vem se esforçando para motivar jovens alunos e pesquisadores para uma exploração tecnológica racional da nossa biodiversidade microbiana. Finalmente, nossa impressão é que o apoio e incentivo das fundações de apoio e do CNPq devam ultrapassar o âmbito do presente edital, e uma continuidade dos projetos seja pensada para que o conhecimento e a exploração racional da nossa biodiversidade seja definitivamente consolidada nas nossas instituições de ensino e pesquisa.
Coordenação: Fabio Amodeo Lansac Toha (UEM)
Texto informativo:
As planícies de inundação são regiões baixas e planas, próximas a cursos de grandes rios que, em períodos de chuvas, alargam-se muito rapidamente sobre vastas áreas. O processo de inundação e vazão - chamado de pulso de inundação - promove inúmeras alterações na paisagem e no habitat local e possibilita locais de alimentação, crescimento e reprodução para inúmeras espécies de plantas e animais, caracterizando esses ambientes com elevada biodiversidade. O Brasil apresenta as maiores planícies de inundação do mundo e que devem ser preservadas para garantir a biodiversidade e a saúde humana. Cientistas nacionais e internacionais, apoiados financeiramente pelo governo federal (CNPq) e pelo governo estadual (Fundação Araucária), realizaram estudos em quatro planícies de inundação do Brasil com o objetivo de conhecer quais as espécies que vivem ali, como vivem e quais são os fatores responsáveis pela manutenção ou desaparecimento delas. Graças aos estudos desenvolvidos foi possível identificar uma grande variedade de espécies que dependem destas planícies de inundação para existir; dentre elas destacam-se peixes, plantas aquáticas, algas e organismos planctônicos, indispensáveis à sobrevivência de muitas espécies animais (aves e mamíferos) que utilizam as planícies de inundação como pontos de paradas para realizar sua migração. Tais organismos dependem uns dos outros e o desaparecimento de um dos grupos pode resultar em um prejuízo muito grande para o funcionamento das planícies de inundação. Foi constatado, ainda, que a poluição dos rios, o desmatamento, a construção de empreendimentos hidrelétricos e o crescimento desordenado de habitações às margens destes ambientes estão prejudicando os pulsos de inundação e, consequentemente, ameaçando as espécies que deles dependem. Impactos humanos sobre os rios e suas planícies de inundação têm também efeitos sobre a falta de água que se verifica atualmente nas cidades da região Sudeste do Brasil, pois muitos dos rios que fornecem água aos habitantes destas cidades estão conectados a uma das quatro planícies de inundação brasileiras estudadas. Portanto, para garantir a saúde e bem estar do homem é fundamental que ocorra um monitoramento ambiental e que se tomem medidas para corrigir os impactos causados pelas suas próprias ações sobre a biodiversidade desses ecossistemas, incentivando cada um a exercer seu compromisso de cidadania na preservação da vida nestes ambientes aquáticos.
Coordenação: Gabriel Corrêa Costa (UFRN)
Texto informativo:
O Brasil é reconhecido como um dos países com maior diversidade biológica do planeta. Apesar da imensa biodiversidade ainda temos um grande déficit de conhecimento sobre os ecossistemas brasileiros. Os grandes biomas florestais, como a Amazônia e a Mata Atlântica, recebem atenção considerável e as ameaças à sua biodiversidade são relativamente bem conhecidas. Por outro lado, os biomas secos (Caatinga, Cerrado e Pantanal) apenas recentemente se tornaram foco de esforços de conservação. A sua biodiversidade encontra-se ameaçada principalmente devido ao rápido desenvolvimento da agricultura e pecuária. Os biomas não florestais foram negligenciados por estudos antigos que tinham uma visão equivocada de que essas regiões possuem baixos níveis de diversidade e ausência de espécies endêmicas. Nosso projeto tem como objetivo criar uma rede de colaboradores que atuam nesses biomas para subsidiar estudos diversos sobre a fauna de anfíbios e répteis e fortalecer as instituições de pesquisa e de ensino da região Nordeste e Centro-Oeste. Nossos resultados têm mostrado que a fauna dessa região tem uma história bastante complexa. À medida que mais esforços de coleta e estudos detalhados são realizados, encontramos novas espécies, seja por coleta em regiões não amostradas, seja por revisão de material comparativo ou por análises genéticas. Nossa rede de pesquisas já produziu uma grande quantidade de informação sobre os ecossistemas não florestais, ajudando a reverter esse quadro de escassez de informação. A rede pretende continuar atuando em conjunto e buscando novos financiamentos, com os objetivos de promover sobretudo a produção de pesquisa de alta qualidade, a formação de recursos humanos com capacitação diferenciada, a consolidação da infraestrutura de importantes instituições e a articulação com setores governamentais e não governamentais ligados à conservação e à transferência de conhecimentos para a sociedade.
Coordenação: Galba Maria de Campos-Takaki (UNICAP)
Texto informativo
A Rede Norte-Nordeste de fungos filamentosos de solos da Caatinga e da Amazônia (RENNORFUN), constituída pelas Universidades Federal Rural de Pernambuco-UFRPE, Federal de Roraima-UFRR, Federal da Paraíba-UFPB, Federal de Pernambuco - UFPE, Federal do Semi-Árido-UFERSA e o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste- CETENE, sob a coordenação da Universidade Católica de Pernambuco-UNICAP, realizou estudos com áreas preservadas de solos da Caatinga e de savana e floresta, estes últimos em Roraima. A equipe da rede corresponde a um total de 40 pesquisadores doutores e 59 estudantes nas diversas modalidades (doutorado, mestrado, iniciação científica e iniciação tecnológica), contando ainda com o apoio de 5 técnicos e 10 pesquisadores colaboradores internacionais. As áreas estudadas apresentaram na Caatinga maior frequência nos nichos ecológicos de Pennicilium, seguido de Aspergillus, ressaltando-se as novas espécies denominadas de Aspergillus caatingaensis e Aspergillus pernambucoensis, sendo estas identificações de novos táxons apoiadas por pesquisadores do Japão (Tetsuhiro Matsuzawa, Takashi Yaguchi, Tohru Gonoi e Yoshikazu Horie). No entanto, os solos de savana e floresta demonstraram maior frequência em Aspergillus, seguido de Penicillium correspondente ao campus Cauamé e à reserva de floresta Parque do Viruá. Quanto ao potencial biotecnológico dos fungos isolados, a maioria demonstrou produzir enzimas (lipases, tanases, colagenases, proteases com atividade fribrinolítica); além dos estudos com enzimas oxidativas, investigou-se a produção de quitina, quitosana, lipídeos e biossurfactantes. Neste sentido, os resultados obtidos demonstram ser promissores e a continuidade dos estudos é de grande importância, com vista à obtenção de produtos de elevado valor agregado e às amplas aplicações biotecnológicas na formulação de modelos, em resposta aos anseios e necessidades da sociedade. No exercício do projeto foram orientados 16 mestres, 11 doutores e 29 alunos de iniciação científica. Dessa forma, os pesquisadores da RENNORFUN continuarão a desenvolver pesquisas conjuntas, no sentido de minimizar o desequilíbrio entre a produção do conhecimento e a transferência de tecnologia que ainda persiste como fator limitante para interação entre o setor produtivo, a atividade científica acadêmica e a sociedade.
Coordenação: Guarino Rinaldi Colli (UnB)
Texto informativo:
O Cerrado é a maior e mais diversa savana do planeta, além de abrigar as cabeceiras das mais importantes bacias hidrográficas brasileiras. Além disso, é a principal região produtora de grãos do Brasil, o que constitui séria ameaça à conservação de sua biodiversidade e dos serviços que proporciona. A Rede de Pesquisa Biota do Cerrado (RPBCerrado) é formada por 40 pesquisadores de 13 instituições brasileiras, que trabalham em prol da conservação e do uso sustentável da biodiversidade do Cerrado. Os trabalhos que desenvolvemos buscam gerar e disseminar conhecimentos sobre a biodiversidade do Cerrado, para entender não apenas como ela se distribui no espaço e no tempo mas também as suas origens e interações, de forma a promover a sua conservação e uso sustentável. A RPBCerrado promove ainda a formação de pessoal qualificado através de cursos de graduação e de pós-graduação em que atuam seus pesquisadores. Esses alunos trabalham ativamente em todas as etapas da geração e disseminação de conhecimentos e, devido a uma formação diferenciada, sua atuação profissional trará importantes repercussões para a conservação da biodiversidade do Cerrado. A RPBCerrado é financiada por diversos programas, incluindo o SISBIOTA e PPBio, assim como por diversos outros projetos liderados pelos seus integrantes e financiados por agências nacionais e internacionais. Nossa rede de pesquisas já produziu grande volume de informações sobre o Cerrado e continua buscando novos financiamentos para promover pesquisas de alta qualidade, a preparação de recursos humanos com formação diferenciada, a consolidação da infraestrutura de coleções biológicas, a disseminação de conhecimentos para a sociedade e a articulação com setores governamentais e não governamentais em prol da conservação e uso sustentável da biodiversidade do Cerrado.
Coordenação: Italo Delalibera Junior (USP)
Texto informativo:
Através do programa SISBIOTA foi criada uma rede de pesquisa empenhada em ampliar o conhecimento sobre a diversidade de inimigos naturais de pragas agrícolas, especialmente fungos, bactérias e nematoides patogênicos a insetos, além de ácaros predadores de pragas do solo. Pouco se conhecia no Brasil sobre estes grupos de organismos, mas após os três anos de andamento do projeto um grande avanço sobre o conhecimento da sua diversidade foi obtido. Um total de 3.101 isolados de fungos, 17.137 ácaros, 183 isolados de nematoides e 1349 isolados da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) foram recuperados de solo de todos os biomas brasileiros. Algumas espécies de nematoides apresentam no seu trato digestivo bactérias simbiontes que são extremamente letais aos insetos, e este estudo investigou pela primeira vez no Brasil a diversidade de espécies destas bactérias. Vários destes organismos foram observados pela primeira vez e descritos pelos cientistas como novas espécies; mesmo entre as espécies já conhecidas, revelou-se uma grande diversidade de strains e de genes. Uma análise em 132 strains de Bt revelou a presença de vários genes com atividade inseticida, com potencial para serem inseridos em plantas cultivadas através de transgenia e conferir-lhes resistência a insetos pragas. Centenas destes organismos foram testados contra diferentes pragas agrícolas importantes, tais como a broca do café, cigarrinha da raiz da cana-de-açúcar, psilídeo vetor do greening do citrus, mosca branca, ácaro do chochamento do alho, tripes, bicudo da cana-de-açúcar, gorgulho da goiabeira, lagartas do cartucho e da espiga do milho, broca da cana-de-açúcar e Helicoverpa armigera. Foram ainda desenvolvidos métodos de criação para alguns destes organismos. Algumas espécies e isolados foram selecionados e estão sendo investigados para elaboração de pesticidas microbianos em parceria com empresas de biopesticidas. Novos pesquisadores foram treinados para desenvolver pesquisa com grupos de inimigos naturais para o estudo dos quais há carência de especialistas no Brasil, e novas coleções de referência destes inimigos naturais foram criadas na Universidade Federal de Alagoas (Campus Arapiraca) e Universidade Federal de Pelotas, bem como as coleções da ESALQ-USP, Embrapa-Milho e Sorgo e Instituto Biológico de Campinas foram significativamente ampliadas. Estas coleções servirão como um repositório que permitirá disponibilizar a órgãos de pesquisa e ensino organismos para estudos de bioprospecção. A formação desta rede ocorre num momento oportuno no Brasil, considerando o interesse crescente de empresas nacionais e multinacionais em investir no mercado de controle biológico.
Coordenação: Izeni Pires Farias (UFAM)
Texto informativo:
O Brasil possui a maior biodiversidade do mundo, com uma estimativa de deter entre 15 a 20% da biodiversidade global, e pelo menos metade está na floresta amazônica. Desta forma, esta proposta teve como objetivo primário criar uma rede de pesquisadores e instituições trabalhando com as principais questões relacionadas a amostrar e caracterizar de maneira padronizada a biodiversidade de grupos alvos de vertebrados do bioma Amazônia. A finalidade da Rede foi de construir um banco de dados de referência de taxonomia, código de barras genético, citogenética/citogenômica e através da bioinformática integrá-lo com banco de dados de tecidos depositados nas instituições fiéis depositárias e dados biológicos associados. A proposta visou também treinar futuros profissionais para lidar com a imensa biodiversidade da Amazônia. Entre outras, as nossas principais contribuições científicas e tecnológicas foram a formação de um banco de dados genéticos padronizado (código de barras), georeferenciados, interligado às coleções de tecidos e coleções taxonômicas e enriquecidos com outros dados biológicos e ecológicos, e a obtenção de uma estimativa do estado atual da biodiversidade da Amazônia brasileira baseada na nova metodologia biotecnológica do código de barras genético juntamente com dados associados à taxonomia, citogenética/citogenômica e dados biológicos. Adicionalmente pretende-se proporcionar as informações obtidas aos órgãos tomadores de decisões relacionadas com o manejo e conservação da biodiversidade, aos órgãos fiscalizadores que combatem a biopirataria, entre outros. No projeto também trabalhou-se a socialização do conhecimento e treinamentos para profissionais e estudantes interessados nas análises utilizadas pela rede e na sua aplicabilidade. O projeto proporcionou a formação de recursos humanos especializados nas diferentes áreas da proposta através da possibilidade do envolvimento dos estudantes em pesquisas científicas.
Coordenação: João Paes Vieira Sobrinho (FURG)
Texto informativo:
A Zona Costeira Brasileira é constituída de uma extensa faixa litorânea de cerca de 8.000 km, a qual engloba três grandes ecossistemas marinhos que abrangem cinco das nove regiões metropolitanas brasileiras, correspondendo a 15% da população do país, e é objeto do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro. Definida como a faixa de transição entre o continente e o mar, esta unidade ambiental inclui alguns dos mais produtivos e valorizados habitat da biosfera, englobando estuários, lagoas, marismas e franjas de recifes de coral. Esta região apresenta uma dinâmica natural bastante intensa, caracterizando um local de alta prioridade para as populações, comércio e indústria. Estudos comparativos entre estuários se constituem em um importante passo para entender a variabilidade das comunidades entre os estuários brasileiros, identificar características convergentes e divergentes entre estes habitat e diagnosticar quais as principais pressões que ameaçam a conservação das espécies em cada estuário. Dentre os principais fatores que limitam estes estudos comparativos, destaca-se a falta de compatibilidade dos dados gerada seja pela discordância espacial e/ou temporal dos dados, seja pela ausência de um protocolo de amostragens padronizado. Portanto, o Projeto SISBIOTA- PELD Zonas Costeiras propõem medidas que podem ser adotadas a curto e médio prazo para superar estas limitações aos estudos comparativos ao longo da costa brasileira. Fazem parte deste grupo pesquisadores que se dedicam ao estudo do plâncton, bentos e nécton nos estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Pernambuco, representados pelas seguintes instituições de ensino superior: Universidade Federal do Rio Grande/ FURG, Universidade Federal do Rio de Janeiro/ UFRJ, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/ UNIRIO, Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ UERJ, Universidade Federal Rural de Pernambuco/ UFRPE e Universidade Federal de Pernambuco/ UFPE.
Coordenação: Leonor Costa Maia (UFPE)
Texto informativo:
A Rede Integrada em Taxonomia de Plantas e Fungos é parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Herbário Virtual e promove o conhecimento da biodiversidade brasileira, uma das mais ricas e ameaçadas do planeta. O foco da Rede foi coleta, disponibilização e melhoria da qualidade dos dados sobre ocorrência de plantas e fungos, formação de recursos humanos, análise dos dados e produção de ferramentas que permitam utilizá-los nas tomadas de decisão. No âmbito do projeto foram realizados cursos voltados à formação de técnicos de herbário e de taxonomistas e produzidas ferramentas para análise de lacunas (Lacunas de Conhecimento da Flora e dos Fungos do Brasil - http://lacunas.inct.florabrasil.net) e da distribuição potencial de espécies (Biogeografia da Flora e dos Fungos do Brasil http://biogeo.inct.florabrasil.net/), bem como foram realizadas viagens para coleta de dados em regiões consideradas lacunas de conhecimento. Como resultados, destacamos a descrição de dezenas de novas espécies de plantas e fungos, centenas de registros novos de ocorrência e a melhoria da qualidade dos dados dos herbários. As ferramentas Lacunas e BioGeo permitiram mapear o conhecimento existente sobre a distribuição de milhares de espécies e projetar sua distribuição potencial, orientando o planejamento de coletas, otimizando o tempo e reduzindo custos. Considerando a riqueza e a complexidade de nossa flora, tais ferramentas têm se mostrado extremamente úteis no estudo de espécies de distribuição restrita, muitas ameaçadas de extinção. A rede integrada contribuiu decisivamente na formação de recursos humanos e na difusão do conhecimento sobre a diversidade de plantas e fungos, estruturando as bases para que o Brasil possa enfrentar o desafio de preservar e utilizar de forma sustentável sua biodiversidade.
Coordenação: Luciano Paganucci de Queiroz (UEFS)
Texto informativo:
As leguminosas formam uma das famílias de plantas mais diversas, com quase 20.000 espécies conhecidas. São distribuídas em todos os continentes (exceto na Antártica) e entre elas incluem-se muitas das plantas que usamos na nossa alimentação (p. ex. feijão, vagem, ervilha, amendoim, soja, grão-de-bico) ou como corantes (p. ex. pau-brasil), forrageiras (p. ex. alfafa), madeireiras, medicinais etc. Além disso, as leguminosas são especiais por formar associações com bactérias fixadoras de nitrogênio que habitam nódulos em suas raízes e, por isso, são as principais responsáveis pela transferência desse importantíssimo nutriente da atmosfera para o solo, onde então fica disponível para plantas, animais e microrganismos fabricarem suas proteínas.
No Brasil, a família das leguminosas (cuja denominação botânica é Leguminosae ou Fabaceae) é a que possui o maior número de espécies e está entre as duas famílias mais diversas nas maiores regiões naturais do Brasil (tecnicamente denominadas de domínios fitogeográficos): Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa.
Sendo uma família com elevada diversidade em todas essas regiões e apresentando grande riqueza nas diferentes formas de vida (árvores, arbustos, ervas e trepadeiras), as leguminosas podem fornecer pistas preciosas sobre os processos que estão gerando a diversidade observada em cada um dos domínios brasileiros.
Nosso estudo focou em reconstruir a história da família no tempo geológico em diferentes escalas de espaço e de tempo, através de técnicas que comparam o material genético (DNA) de diferentes espécies, e obtiveram-se resultados surpreendentes. Um deles mostra que, apesar da irregularidade climática na Caatinga, esse é o domínio no qual as espécies são mais antigas, tendem a persistir por mais tempo e apresentam maiores limitações à sua dispersão. Por outro lado, várias linhagens de florestas úmidas são antigas, mas muitas (de fato a maioria) de suas espécies são muito recentes, o que indica que eventos de extinção ocorreram e algumas linhagens foram substituídas pelas que hoje ocorrem. Já no Cerrado e nos Pampas, as leguminosas chegaram há relativamente pouco tempo e se diversificaram de forma espetacular, com vários gêneros sendo representados por muitas espécies que, no geral, adaptaram-se muito bem ao fogo como um novo fator ecológico.
Esses dados indicam que a conservação da biodiversidade deve ser planejada de modo a respeitar as características diferentes de cada domínio fitogeográfico. Enquanto as plantas de florestas úmidas se dispersam mais facilmente, sua origem recente mostra que diferentes áreas devem ser conservadas para que a variabilidade genética seja preservada.
Por outro lado, a forte limitação à dispersão em plantas da Caatinga indica que um estudo cuidadoso da forma como a diversidade está distribuída deve preceder o estabelecimento de unidades de conservação, uma vez que há uma grande heterogeneidade mesmo entre áreas geograficamente próximas.
Coordenação: Maria de Lourdes Teixeira de Moraes Polizeli (USP)
Texto informativo:
Atualmente muito se discute sobre os métodos ou formas de localizar, avaliar e explorar sistemática e legalmente a biodiversidade, com o objetivo de buscar recursos genéticos e bioquímicos para fins biotecnológicos - a bioprospecção. Ao encontro desta temática vem a perspectiva de desenvolvimento sustentável de biocombustível - etanol de 2ª geração - a partir de palhas e bagaço de cana de açúcar, ou de outros resíduos agrícolas subutilizados.
Sabe-se que os resíduos gerados nas usinas sucroalcooleiras excedem os limites de consumo e levam à contaminação ambiental. Pensando na extensão do Brasil e na concepção de que é um país em que o setor agrícola é importante, é inevitável que uma grande quantidade de resíduos seja gerada. Outro ponto que vem sendo debatido é a contaminação ambiental por agrotóxicos e como a quantidade destes poderia ser minimizada em efluentes.
A proposta desta Rede teve como temática a prospecção de micro-organismos para a produção de tecnologia sustentável, de forma a agregar conhecimentos multidisciplinares. Um dos objetivos foi montar coleções de fungos isolados a partir de diversos biomas nacionais, ou obtidos por metagenômica, com disponibilidade de abarcar múltiplos estudos. Outro objetivo foi a preparação de um coquetel enzimático com potencial elevado de degradação de polímeros da parede celular de plantas, acarretando na formação de açúcares fermentescíveis por leveduras.
A Rede foi composta por 11 subprojetos e auxiliada por 15 grupos de pesquisadores alocados nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Cada pesquisador contribuiu de acordo com as suas especialidades. Há jovens docentes que estão em centros emergentes, nos quais os resultados obtidos pela Rede contribuíram para a consolidação de competências científicas e tecnológicas. A proposta foi fundamentada no desenvolvimento de uma bateria de técnicas microbiológicas, bioquímicas e de biologia molecular, contando com metodologias inovadoras tais como:
(a) coleta georreferenciada de mais de mil fungos, isolamento, manutenção e identificação de espécies;
(b) formação de uma biblioteca de DNA ambiental contendo apenas as sequências codificadoras das proteínas;
(c) purificação, imobilização de enzimas em suportes químicos;
(d) caracterização estrutural de enzimas;
(e) utilização de licores obtidos por auto-hidrólise de resíduos agroindustriais;
(f) detoxificação de resíduos submetidos à explosão a vapor, para geração de etanol de 2ª geração e
(g) expressão heteróloga de fungos recém isolados, visando aumento da expressão enzimática.
A Rede ainda contribuiu para a formação acadêmica, difusão de conhecimento e conscientização da biodiversidade junto ao Ensino Fundamental e Médio. Existe o desafio em redirecionar as concepções em voga sobre a conservação do meio ambiente para novas formas de pensar e agir. É fundamental adaptar as tecnologias para que possam coexistir o crescimento populacional, a atividade econômica e o ecossistema.
As expedições de coleta realizadas com recursos do presente projeto foram fundamentais para obtenção de amostras de tecidos utilizadas em análises moleculares chave para o reconhecimento de diversas espécies de aves antes consideradas apenas meras variedades e não incluídas em análises de vulnerabilidade de espécies da avifauna brasileira, realizadas pelo ICMBIO - CEMAVE. Esse primeiro conjunto de 21 novas espécies de aves brasileiras, reconhecidas prioritariamente a partir de estudos moleculares, faz parte de um livro a ser publicado em maio de 2013 pela série "Handbook of the Birds of the World", editado na Espanha por um corpo editorial internacional de ornitólogos. Com isso, o presente projeto contribuiu sobremaneira para o aprimoramento do conhecimento sobre a real diversidade brasileira de aves. É digno de nota o fato que, das 21 novas espécies reconhecidas a partir de estudos financiados por um grupo de projetos que incluiu o SISBIOTA-Aves, pelo menos duas já se encaixam na categoria vulnerável, o que só foi possível detectar quando as mesmas passaram a ser avaliadas como espécies plenas e não subespécies, a partir da confirmação obtida com análises filogenéticas moleculares. Em relação a outros objetivos e metas desta rede, vale notar que os dados genômicos parciais obtidos com espécies brasileiras estão contribuindo para um consórcio internacional que está revisando a filogenia de aves com base em métodos filogenômicos e dados de sequenciamento de cerca de 50 espécies de aves, incluindo algumas sequenciadas por esta rede. Esta nova filogenia vai ajudar a estabelecer aspectos importantes da evolução de aves e entender melhor fatores que podem ser críticos para o surgimento e extinção de espécies ao longo da evolução das aves.
Também vale notar que um melhor conhecimento sobre os genes e redes que participam da biologia do aprendizado vocal também poderão apontar para fatores genéticos que são críticos para o processo de especiação e portanto para geração de biodiversidade em aves. Análises subsequentes poderão definir marcadores críticos para estudos de genética de população em aves.
Coordenação: Mário Marcos do Espírito Santo (UNIMONTES)
Texto informativo:
A Rede Matas Secas tem como foco de estudo as florestas tropicais secas (FTS) brasileiras, também chamadas de Matas Secas, Caatinga Arbórea, Florestas Estacionais Deciduais ou simplesmente Caatinga, dependendo da região ou critério de classificação. Essa rede visa dar continuidade às atividades de pesquisa e extensão em FTS nas Américas, iniciadas pela Rede Colaborativa de Pesquisas TROPI-DRY em diversos países (México, Costa Rica, Venezuela, Brasil e Cuba) em 2006. No Brasil, a Rede Matas Secas expandiu as atividades realizadas pela Rede TROPI-DRY nas mesmas regiões de estudo: no norte de Minas Gerais, no sertão paraibano (Patos, Santa Terezinha e Maturéia-PB) e na Serra do Cipó, região central de Minas Gerais. Por entender que o esforço conservacionista necessita de um enfoque multidisciplinar, a Rede Matas Secas foi formada por pesquisadores de áreas diferentes, como botânica, zoologia, agronomia, microbiologia, ecologia, sensoriamento remoto e ciências sociais, com o objetivo de entender, integrar e comparar informações sobre a estrutura, funcionamento e dinâmica das FTS no Brasil. Através do estabelecimento de protocolos padronizados, pretende-se comparar as características das FTS estudadas nas regiões estudadas, assim como os processos ecológicos que afetam o funcionamento e a resiliência desses ecossistemas. Além disso, a rede almeja entender os padrões de mudanças no uso da terra nessas regiões nas últimas décadas, assim como o contexto socioambiental no qual as FTS brasileiras estão inseridas. Nesse sentido, a principal contribuição da Rede Matas Secas é aumentar o grau de conhecimento sobre a biodiversidade e de visibilidade pública de uma formação vegetal pouco estudada no Brasil, que vem sendo desmatada a taxas alarmantes e é frequentemente negligenciada em termos de esforços conservacionistas. Assim, os resultados aqui gerados podem ser utilizados para aprimorar a classificação botânica das FTS brasileiras e seu status de proteção dentro da legislação brasileira, visando definir políticas de conservação e uso sustentável específicas para essas formações vegetais, bem como melhorar o entendimento do seu processo de regeneração natural, gerando informações para a correta fiscalização do uso do solo e para estratégias de recuperação de áreas degradadas em regiões de FTS. Além disso, pretende-se preencher lacunas sobre o conhecimento da biodiversidade brasileira, levando as informações geradas a um público amplo e a tomadores de decisão. Para isso, são realizadas atividades de extensão e educação ambiental, como reuniões com comunidades locais, workshops de devolução de resultados e elaboração de cartilhas e outros materiais de divulgação científica. A Rede Matas Secas pretende manter e expandir uma rede de parcelas permanentes com a maior abrangência geográfica possível, de modo a acompanhar o processo de regeneração natural através de estudos de longa duração.
Coordenação: Mercedes Maria da Cunha Bustamante (UnB)
Texto informativo:
Entender os padrões e processos que regulam as distribuições de espécies e suas abundâncias e os efeitos da diversidade biológica no funcionamento de ecossistemas são perguntas centrais da ecologia, que hoje apresentam importantes implicações para a sociedade. O Cerrado é um bioma de elevada biodiversidade. Embora a pesquisa no Cerrado já tenha uma longa história, esta tem sido construída de forma fragmentada e pontual. Adicionalmente, o Cerrado vem perdendo sua cobertura vegetal original de forma mais acelerada que o avanço do conhecimento sobre sua biodiversidade e funções ecológicas. Neste cenário, a Rede ComCerrado congrega os esforços de pesquisadores do Cerrado, a partir da integração de seus núcleos regionais, realizando inventários e monitoramento em diversas Unidades de Conservação, com metodologias padronizadas. Considerando as taxas atuais de conversão do Cerrado, as áreas naturais protegidas são cruciais para o conhecimento e a conservação da biodiversidade desconhecida e que está sendo perdida rapidamente. A pesquisa nestas áreas é útil também para avaliar a efetividade das unidades de conservação, ou seja, o quanto a biodiversidade está protegida dentro dos parques e reservas. O monitoramento permite, ao longo de vários anos, perceber eventuais alterações na diversidade e abundância das espécies e assim, informar e orientar ações de gestão.
Coordenação: Moacir Pasqual (UFLA)
Texto informativo:
Com a realização do presente projeto foi possível consolidar uma equipe de profissionais de forma multi e interdisciplinar e de diversas instituições pertencentes à região amazônica e também a outras partes do Brasil, a exemplo da Universidade Federal de Roraima/ UFRR, unidades da Embrapa na região Norte, INPA, Universidade Federal do Amazonas/ UFAM, Universidade Federal de Sergipe/ UFS e Universidade Federal de Lavras/ UFLA. Dessa forma, foi possível o avanço nas diversas linhas de pesquisa inseridas no presente projeto que serão de extrema utilidade para a conservação da biodiversidade de espécies nativas das Regiões Nordeste e Amazônica.
Coordenação: Onildo Joao Marini Filho (ICMBio)
Texto informativo:
A Rede Nacional de Pesquisa e Conservação dos Lepidópteros - RedeLep - coletou e disponibilizou grande quantidade de informações sobre borboletas e mariposas em diversas regiões do Brasil onde até pouco tempo atrás não existiam estudos intensivos, como a Caatinga, o arco do desflorestamento na Amazônia, e a região norte do Cerrado. Dentre as principais contribuições para a ciência, destacamos o encontro de populações de várias espécies ameaçadas de extinção na natureza. A RedeLep também contribuiu para implementação do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Lepidópteros Ameaçados de Extinção. Esse documento é usado como base de referência para o planejamento e ações para assegurar a conservação destas espécies. Para ajudar nesse processo, também foram produzidos guias de identificação de espécies de borboletas e protocolos de amostragem padronizada que estão sendo distribuídos em Unidades de Conservação e também disponibilizados ao público interessado. O projeto atuou fortemente na formação de recursos humanos especializados, principalmente nas universidades e centros de pesquisa. Um aporte substancial de bolsas fornecidas pelo CNPq e CAPES fortaleceu os grupos de pesquisa envolvidos e permitiu que o pessoal formado pudesse ser absorvido em iniciativas correlacionadas, como o monitoramento da biodiversidade executado pelo ICMBio em unidades de conservação federais. Em relação aos setores de educação básica e serviços em geral, as principais ações estiveram relacionadas à distribuição e divulgação de material de educação ambiental para servidores e visitantes de algumas unidades de conservação nas regiões Sul e Sudeste. Membros da RedeLep também participaram de diversos eventos como congressos e seminários, além de dar entrevistas e colaborar com reportagens em jornais e programas na televisão.
Coordenação: Paulo Cezar Vieira (UFSCar)
Texto informativo:
A Rede de pesquisa SISBIOTA Brasil Cerrado-Mata Atlântica foi criada por pesquisadores pertencentes às universidades federais de São Carlos, São Paulo, Espírito Santo e Goiás, com o objetivo principal de estudar o potencial químico e biológico de espécies vegetais pertencentes aos biomas Cerrado e Mata Atlântica. O trabalho da rede foi norteado na possibilidade de utilizar a flora brasileira para a obtenção de substâncias químicas que possam ser utilizadas para o tratamento de doenças como câncer, osteoporose, artrites entre outras, além de estudar espécies vegetais que possam ser úteis para o controle de pragas e ervas daninhas. Do ponto de vista de formação e capacitação de recursos humanos, esta rede foi extremamente importante para criação de grupos de pesquisa na área de química de produtos naturais em universidades ainda muito jovens ou com pouca tradição na área de pesquisa. Também foram realizados trabalhos de extensão para conscientização da importância da biodiversidade brasileira em comunidades locais e escolas públicas do estado de Goiás.
Coordenação: Sergio Florentino Pascholati (USP)
Texto informativo:
O uso indiscriminado de defensivos e outros produtos químicos vêm causando uma série de problemas para agricultores, consumidores e para o meio ambiente. Nesse contexto, outras medidas de controle de doenças de plantas estão sendo utilizadas, visando também à redução de custos e de riscos ambientais. Atualmente, a indução de resistência tem recebido destaque no âmbito global. O fenômeno de indução consiste no aumento da capacidade da planta em expressar respostas de defesa contra a infecção por patógenos invasores pelo tratamento com agentes indutores (eliciadores), sem qualquer alteração no genoma da planta. A exposição prévia das plantas a agentes bióticos ou abióticos pode induzir resistência local ou sistêmica nas mesmas. Assim, o presente projeto tem como objetivo principal a busca e a utilização de fungos sapróbios, isolados em áreas do semiárido nordestino, com capacidade de induzir resistência contra fungos, bactérias e vírus causadores de doenças em plantas de interesse comercial, como tomateiro, videira, soja, cafeeiro, eucalipto, citros, sorgo e em frutas como uva e goiaba. Além de conhecer a biodiversidade micológica brasileira, bem como estudar os aspectos bioquímicos, fisiológicos e moleculares envolvidos no controle das doenças, moléculas indutoras de resistência serão identificadas, isoladas e caracterizadas. Alguns dos fungos sapróbios que exibam a atividade biológica de interesse, bem como algumas das moléculas caracterizadas, poderão ser usados comercialmente, visando o controle racional e seguro das doenças em plantas.
Coordenação: Teresa Cristina Sauer de Avila-Pires (MPEG)
Texto informativo:
A Rede Sisbiota/ Diversidade de anfíbios e répteis, e helmintos parasitas associados, na região amazônica (Rede Herpeto-Helmintos), vinculada ao Programa de Pesquisa em Biodiversidade/PPBIO Amazônia Oriental, visou fortalecer as equipes de herpetologia vinculadas ao programa, de forma a incrementar o estudo dessa fauna, apoiar estudos integrados de répteis e anfíbios na região e estimular o conhecimento sobre helmintos parasitas desses animais. A Amazônia é um ecossistema complexo e, apesar das muitas pesquisas já desenvolvidas, ainda há muito por conhecer. Um dos objetivos da rede foi realizar estudos nas grades do PPBIO nas Florestas Nacionais de Caxiuanã (PA), Tapajós (PA) e Amapá (AP), na Reserva Ecológica do Gurupi (MA) e no Parque Nacional de Juruena (MT), de forma a termos dados comparáveis sobre a herpetofauna dessas áreas. A esses estudos foram adicionadas informações sobre outras áreas mal amostradas quanto a herpetofauna, para as quais foram realizadas expedições isoladas. Parasitas têm um papel importante nas interações com o meio e na própria biologia de um animal, aspecto ainda mal estudado e objeto de interesse da rede. Os estudos desenvolvidos permitiram estender a distribuição conhecida de algumas espécies e descobrir espécies novas de helmintos parasitas. Além dos estudos realizados em cada uma das áreas foco da rede, foram realizados também estudos buscando entender a região como um todo; por exemplo, analisando a diversidade beta e os padrões de diversidade reprodutiva e funcional de anfíbios na Amazônia, e buscando entender melhor os padrões de distribuição da herpetofauna na região e como se estruturam geograficamente, inclusive a nível molecular, permitiu-se uma avaliação mais acurada da diversidade existente. Em conjunto, essas informações possibilitarão entender melhor como se distribui e como se formou a biodiversidade na Amazônia, ou seja, o que levou à formação de uma região tão rica em biodiversidade, além de embasar políticas públicas, especialmente em relação à melhoria no sistema de unidades de conservação e à identificação e acompanhamento do status de conservação das espécies. A rede buscou colaborar também com ações de educação ambiental e divulgação científica, tendo em vista a importância da conscientização ambiental da sociedade em geral.
Coordenação: Valerio De Patta Pillar (UFRGS)
Texto informativo:
A Rede Campos Sulinos integra pesquisadores que estudam a flora e fauna dos campos nativos do sul do Brasil. Após o mapeamento de todas as áreas de campo que ainda restam no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, foram selecionadas 62 localidades, distribuídas por todas as regiões, para nelas realizar levantamentos biológicos de vegetação campestre, invertebrados, anfíbios, aves e mamíferos. É a primeira vez que um estudo desta envergadura é desenvolvido nos Campos Sulinos. Em cada local foi estabelecida uma parcela de 2 x 2 km, onde os pesquisadores realizaram diversos levantamentos para identificar e avaliar a quantidade das espécies nativas presentes. A análise desses dados tem permitido compreender como as espécies se distribuem, quais espécies ocorrem em toda a região, quais têm distribuição limitada. Também são investigadas como as variáveis de clima, os solos e o relevo influenciam a composição de espécies nas diferentes regiões dos Campos Sulinos. Além disso, o projeto avaliou os efeitos da destruição dos campos nativos pela agricultura e silvicultura sobre a biodiversidade. As conclusões do projeto estão sendo úteis para subsidiar políticas de conservação e uso sustentável dos campos no sul do Brasil.
Coordenação: Vanderlan da Silva Bolzani (UNESP)
Texto informativo:
O projeto colaborativo Rede SECCA, apoiado pelo edital SISBIOTA/ CNPq, neste curto período mapeou o perfil químico de plantas da Caatinga, região Nordeste. Trata-se de um ecossistema de grande interesse científico por ser genuinamente brasileiro e ainda muito pouco conhecido com relação à beleza molecular escondida nos organismos deste bioma, muitos deles espécies de grande interesse medicinal.
Chamada 3 - Pesquisa em redes temáticas para o entendimento e previsão de respostas da biodiversidade brasileira às mudanças climáticas e aos usos da terra (seis redes de pesquisa)
As propostas nesta chamada deveriam estar relacionadas às seguintes linhas temáticas: detecção das alterações de mudanças ambientais regionais e globais; modelagem descritiva e preditiva de respostas e alterações da biodiversidade sob diferentes cenários de alterações globais e regionais; investigação de fatores que historicamente tem levado a perturbações da biodiversidade e propostas de correção de rumos; estratégias de conservação da biodiversidade. As seguintes redes de pesquisa foram financiadas no âmbito dessa chamada:
Coordenação: Alexander Turra (USP)
Texto informativo:
A ReBentos (http://rebentos.org) é uma rede constituída por pesquisadores de toda a costa brasileira, que se uniram com o objetivo comum de compreender os efeitos das mudanças climáticas globais (MCGs) sobre os organismos bentônicos em diversos ambientes marinhos costeiros: estuários, praias, costões, recifes coralinos, manguezais e marismas, fundos submersos vegetados (gramas marinhas e bancos de rodolitos). Para tanto, a ReBentos produziu protocolos com metodologias de trabalho simples e padronizadas, com máxima eficiência para a amostragem da biodiversidade e devidamente replicadas para contemplar diferentes fatores abióticos e antropogênicos, que serão utilizadas em toda a costa brasileira e de forma contínua. A partir de um levantamento prévio do estado da arte sobre a biodiversidade dos ecossistemas considerados, foi definida pelos participantes da ReBentos a localização dos pontos de monitoramento contínuo. Esses pontos de monitoramento estão inseridos em áreas com menor impacto antrópico possível, como por exemplo em unidades de conservação, e com características ambientais ideais, conforme definido pelos protocolos de trabalho. Alguns pontos vêm sendo monitorados e os dados bióticos e abióticos obtidos estão sendo organizados em um banco de dados online com o propósito de, futuramente, servir como indicativo dos possíveis efeitos deletérios das MCGs sobre a biodiversidade marinha nos diferentes ecossistemas. Uma vertente de educação ambiental faz parte da ReBentos e visa levar a reflexão sobre a problemática das mudanças climáticas globais sobre os ecossistemas marinhos e costeiros para, com isso, possibilitar e incentivar mudanças de atitudes e valores em relação a estes ambientes.
Coordenação: Francisco Gerson Araujo (UFRRJ)
Texto informativo:
Mudanças na estrutura da ictiofauna das áreas costeira das regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil, influenciadas pela Corrente do Brasil, foram investigadas e associadas às mudanças climáticas. Nós hipotetizamos que alguns peixes estão experimentando perdas temporais significativas desde a década de 80, devido a mudanças climáticas, poluição/perda de habitat e/ou sobrepesca, e que algumas espécies expandiram sua área de distribuição associadas às mudanças climáticas. Dados primários e secundários revelaram que mudanças consistentes da ictiofauna na costa do Brasil suportam a hipótese de influência do clima. Quase um quinto da ictiofauna (70 espécies) da costa brasileira vem sofrendo importantes mudanças na distribuição e abundância desde a década de 80. O encontro entre a água doce e o mar produz regiões conhecidas como áreas estuarinas, que abrigam uma grande quantidade de peixes que são explorados pelo homem através da pesca esportiva ou comercial. Porém, para podermos utilizar esse recurso de modo sustentável é preciso conhecer quais são os processos ecológicos que controlam esse recurso. Um desses fatores são as relações alimentares entre o alimento (presa) e o consumidor (predador). Usando técnicas inovadoras no Brasil, como isótopos estáveis, o presente subprojeto estudou as relações tróficas em três estuários da costa brasileira (estuário da Lagoa dos Patos/ RS, Baía de Sepetiba/ RJ e Barra de Mamanguape/ PB) para entender quais as principais fontes de alimento que sustentam os peixes nessas regiões, incluindo aqueles importantes na pesca, como bagres, corvina, linguado, tainha etc. Os resultados mostram que os alimentos produzidos no estuário são fundamentais para o sustento de várias espécies de peixes, não apenas aquelas que vivem toda sua vida no estuário, mas também para os peixes juvenis que usam essa região durante parte do ciclo de vida. Portanto, a conservação desses ambientes é fundamental para o sustento dessas espécies e, consequentemente, para o futuro das pescarias.
Coordenação: Marisa Domingos (IBT)
Texto informativo:
Os estudos realizados em parceria pelo Instituto de Botânica (São Paulo), pela Universidade Federal de Viçosa (Minas Gerais) e pelo Instituto Federal Goiano/campus Rio Verde (Goiás) demonstraram que plantas nativas da Mata Atlântica e do Cerrado podem ser indicadoras da ação de poluentes emitidos por diferentes usos da terra pelo homem. Diferentes plantas nativas desses biomas foram apontadas como boas indicadoras da presença de contaminantes provenientes da agricultura (fertilizantes e herbicidas) e das indústrias e cidades (poluentes, como ozônio e partículas carregadas de elementos e compostos muito tóxicos). Estas espécies podem ser utilizadas em programas de biomonitoramento para determinar o nível de contaminação ambiental por meio de alterações em seus processos fisiológicos e bioquímicos, que levam a alterações na cor das folhas, pois promovem degradação das clorofilas seguida de amarelecimento, necrose e queda das folhas. Associado a tais sintomas, também são verificados forte redução da taxa fotossintética das plantas, aumento na emissão de energia na forma de calor, maior sensibilidade à luz solar, mudanças nos padrões de crescimento, acúmulo de elementos e compostos tóxicos nas folhas e até morte das plantas sob doses mais elevadas dos poluentes. O biomonitoramento é realizado justamente a partir de medidas desses sintomas observados nas plantas bioindicadoras. Em linhas gerais, podemos interpretar os resultados do biomonitoramento da seguinte forma: quanto mais intenso for o sintoma, pode-se supor que mais alto será o nível de contaminação ambiental. Os resultados obtidos são interessantes, pois demonstram que as próprias espécies dos remanescentes de vegetação estudados podem fornecer um diagnóstico e um alerta dos efeitos de poluentes nos biomas da Mata Atlântica e do Cerrado. Mais detalhes podem ser obtidos no site do projeto www.plantarsolo.eco.br.
Coordenação: Marcelo Accioly Teixeira de Oliveira (UFSC)
Texto informativo:
Nossa rede de pesquisa se desenvolveu sob o acrônimo "Paleobioestrata", sendo paleo=antigo, bio=vida e estrata=camada. Traduzindo esse acrônimo do grego, podemos pensar em "camadas de vida antiga", expressão que sugere uma história a ser contada e que, no nosso projeto, trata de parte da história natural. Como qualquer trabalho histórico, a nossa história é contada através dos registros que estão disponíveis para consulta. Esses registros, porém, não estão preservados em bibliotecas, mas em camadas de sedimentos que ocorrem em ambientes específicos protegidos por lei, nas chamadas áreas úmidas, conhecidos por turfeiras. Nas turfeiras, devido ao terreno encharcado durante todas as estações, tecidos de plantas que ali caiam não se decompõem inteiramente, por causa da ausência de oxigênio. Em função disso, alguns tecidos vegetais ficam preservados, e vão se acumulando em camadas. Essas camadas são compostas, em alguns casos, quase que exclusivamente de tecidos vegetais parcialmente decompostos, formando um material que se chama turfa, um sedimento que se forma ao longo do tempo pela acumulação de várias camadas de tecidos vegetais. Na nossa rede, nós trabalhamos medindo o grau de decomposição desses tecidos vegetais e coletando e identificando grãos de pólens que foram gerados por todas as plantas nas proximidades desses terrenos alagados. Pólens são minúsculos grãos produzidos pelas flores e que servem como seus elementos reprodutores masculinos. Ao polinizar, as flores dispersam os grãos de pólen através do vento; da água; de insetos e de animais. Esses grãos formam a chamada chuva polínica, que precipita e fica preservada nas turfeiras, criando o nosso registro de história natural. Como gramíneas, árvores e arbustos polinizam, o percentual de grãos de pólen de famílias de gramíneas e de árvores encontrado nos registros das turfas indica o percentual de campos e de florestas dos locais estudados ao longo do tempo. Os resultados obtidos pela rede estão compondo uma história que narra a modificação da cobertura vegetal e das mudanças ambientais que nós estamos verificando nos últimos 43.000 anos de evolução da paisagem e da vegetação dos locais estudados. Como qualquer narrativa histórica deve ser feita em função do tempo que passa, utilizamos os chamados métodos de datação radiométrica através do carbono 14, para datar camadas de turfa de interesse e contar a nossa história. A rede envolveu pesquisadores, estudantes e colaboradores de 8 universidades, em 5 estados brasileiros (RS, SC, SP, PE e PI). Essa equipe continuará a colaborar por bastante tempo contando a história natural das áreas úmidas (turfeiras) estudadas, em 4 estados brasileiros. Na medida em que esses resultados forem sendo publicados, a rede estará contribuindo através de divulgação focada na identificação, valorização e preservação dos arquivos de história natural estudados: turfeiras.
Coordenação: Miguel Petrere Junior (UEA)
Texto informativo:
Mudanças climáticas globais e alterações no ecossistema decorrentes das formas de uso da terra estão entre as maiores ameaças para a diversidade de peixes em todo o planeta. Os efeitos de mudanças climáticas sobre o ecossistema incluem alterações na duração, na distribuição e na frequência de cheias e secas, como reflexos diretos na duração e na intensidade do pulso de inundação, considerado o agente regulador da biota em rios com planícies aluviais adjacentes. Os impactos dessas mudanças sobre a ictiofauna e as pescarias são, até o momento, cercados de incerteza. No entanto, é fundamental que estudos acerca dos padrões de diversidade alfa e beta sejam estudados, incluindo ensaios para avaliar a influência de fatores abióticos e bióticos como estruturadores das comunidades de peixes.